Neutralização de Efluentes de Decapagem: Protocolo Completo CONAMA 430

Segmento: Indústria Metalúrgica - Tratamento de Efluentes
Tema: Neutralização de Efluentes Ácidos - CONAMA 430/2011
Persona-alvo: Técnico Especialista | Responsável Ambiental
Palavras-chave: efluentes decapagem, CONAMA 430, neutralização ácidos, tratamento efluentes metalúrgicos


Introdução

O descarte inadequado de efluentes ácidos de decapagem é uma das principais causas de autuações ambientais em fundições e metalúrgicas brasileiras. Segundo a legislação ambiental vigente (CONAMA 430/2011 e Lei 9.605/98), o descumprimento pode resultar em multas significativas, interdição de atividades e responsabilização dos gestores.

Efluentes de decapagem apresentam pH extremamente ácido (0,5 a 2,0) e concentrações elevadas de metais dissolvidos (ferro, zinco, níquel, cromo), tornando seu descarte direto em corpos d'água ou redes coletoras uma grave violação ambiental. A neutralização correta desses efluentes não é apenas obrigação legal, mas também oportunidade para recuperação de água, redução de custos com captação e até comercialização de lodo rico em metais.

Este artigo técnico apresenta protocolo completo para neutralização de efluentes de decapagem metalúrgica conforme CONAMA 430/2011, incluindo processos químicos, equipamentos necessários, controle operacional, destinação de resíduos e documentação obrigatória para conformidade legal total.

Resumo Executivo

Objetivo: Elevar pH de efluentes ácidos (pH ~1) para faixa de descarte permitida (pH 6-9) conforme CONAMA 430/2011, precipitando metais dissolvidos como hidróxidos sólidos.

Processo: Adição controlada de agentes alcalinos (soda cáustica, cal hidratada, barrilha) que reagem com ácidos livres e forçam precipitação de metais como Fe(OH)₃, Zn(OH)₂, Ni(OH)₂.

Sistema mínimo:

  • Tanque de equalização (homogeneização)
  • Tanque de neutralização (reação + agitação)
  • Sistema de dosagem de alcalino
  • pHmetro online com registro contínuo
  • Tanque de sedimentação (separação lodo/água)
  • Sistema de desaguamento (filtro-prensa ou centrífuga)

Custo estimado: R$ 25.000 a R$ 150.000 dependendo do volume diário de efluente e nível de automação.

Benefício: Conformidade legal total, eliminação de riscos de autuação, possibilidade de reuso de água tratada, recuperação de metais de alto valor (quando economicamente viável).

Legislação Aplicável: CONAMA 430/2011

Parâmetros Obrigatórios para Descarte

A Resolução CONAMA 430/2011 estabelece condições e padrões de lançamento de efluentes em corpos receptores de água. Para efluentes de decapagem metalúrgica, os parâmetros mais críticos são:

pH:

  • Faixa permitida: 6,0 a 9,0
  • Efluentes de HCl: pH típico 0,5 a 1,5 (não conforme)
  • Efluentes de H₂SO₄: pH típico 0,8 a 2,0 (não conforme)
  • Neutralização obrigatória

Ferro dissolvido:

  • Limite máximo: 15 mg/L (ferro solúvel)
  • Efluentes saturados: 5.000 a 15.000 mg/L (não conforme)
  • Precipitação como Fe(OH)₃ obrigatória

Outros metais (quando presentes):

  • Zinco: máximo 5 mg/L
  • Níquel: máximo 2 mg/L
  • Cromo total: máximo 0,1 mg/L (Cr⁶⁺) ou 1,0 mg/L (Cr³⁺)
  • Cobre: máximo 1 mg/L

Sólidos sedimentáveis:

  • Limite máximo: 1 mL/L em teste de 1 hora (cone Imhoff)
  • Lodo de hidróxidos deve ser removido antes do descarte

Penalidades por Não Conformidade

Administrativa (Lei 9.605/98):

  • Multa simples: R$ 5.000 a R$ 50.000.000
  • Multa diária: Aplicada até regularização
  • Interdição de atividades: Paralisação total da operação
  • Suspensão de licenças: Impossibilidade de operar legalmente

Criminal (Lei 9.605/98, Art. 54):

  • Reclusão de 1 a 4 anos para poluição que cause dano à saúde humana ou animal
  • Reclusão de 1 a 5 anos se poluição for qualificada (lançamento contínuo, ocultação)
  • Responsabilização pessoal de diretores, gerentes e responsáveis técnicos

Civil:

  • Reparação integral do dano ambiental
  • Custos de recuperação de corpos d'água contaminados
  • Indenização a terceiros afetados

A conformidade com CONAMA 430/2011 deixou de ser opcional: é requisito legal inegociável para operação de qualquer fundição ou metalúrgica no Brasil.

Química da Neutralização: Fundamentos

Reações de Neutralização Ácido-Base

A neutralização consiste na reação entre íons H⁺ (do ácido) e íons OH⁻ (da base), formando água e elevando o pH:

Reação geral: H⁺ + OH⁻ → H₂O

Para efluentes de HCl com soda cáustica: HCl + NaOH → NaCl + H₂O

Para efluentes de H₂SO₄ com soda cáustica: H₂SO₄ + 2NaOH → Na₂SO₄ + 2H₂O

Precipitação de Hidróxidos Metálicos

Conforme o pH é elevado, metais dissolvidos precipitam como hidróxidos insolúveis em faixas específicas de pH:

Ferro: Fe²⁺ + 2OH⁻ → Fe(OH)₂ ↓ (precipita em pH > 8) Fe³⁺ + 3OH⁻ → Fe(OH)₃ ↓ (precipita em pH > 3)

Zinco: Zn²⁺ + 2OH⁻ → Zn(OH)₂ ↓ (precipita em pH 7-10)

Níquel: Ni²⁺ + 2OH⁻ → Ni(OH)₂ ↓ (precipita em pH > 8)

Observação crítica: Ferro ferroso (Fe²⁺) oxida rapidamente em ferro férrico (Fe³⁺) quando em contato com oxigênio do ar, formando precipitado marrom característico de Fe(OH)₃.

Faixas Ótimas de Precipitação

Para maximizar a remoção de metais, a neutralização deve elevar o pH até a faixa de precipitação completa:

  • pH 3-4: Início da precipitação de Fe³⁺
  • pH 7-8: Precipitação completa de Fe²⁺ e Fe³⁺
  • pH 8-9: Precipitação de Zn, Ni, Cu
  • pH > 9: Risco de resolubilização de alguns metais (anfóteros)

Faixa ideal de operação: pH 8,0 a 8,5 garante precipitação completa de ferro e metais comuns sem risco de resolubilização, com margem segura para descarte conforme CONAMA 430 (pH 6-9).

Agentes Neutralizantes: Comparação Técnica

Soda Cáustica Líquida (NaOH 50%)

Características:

  • Concentração: 50% m/m (densidade 1,52 g/cm³)
  • pH solução pura: ~14
  • Solubilidade: Completa em água
  • Reatividade: Muito alta (neutralização instantânea)

Vantagens:

  • Dosagem precisa por bomba dosadora
  • Reação rápida (tempo de residência curto)
  • Não gera CO₂ ou gases secundários
  • Permite automação completa com controle por pH
  • Lodo denso e facilmente sedimentável
  • Ideal para sistemas de tratamento contínuo

Limitações:

  • Custo mais elevado por equivalente alcalino
  • Exige tanque de armazenamento com aquecimento traçado (cristaliza <15°C)
  • Produto perigoso (queimaduras graves por contato)
  • Transporte como produto perigoso Classe 8

Dosagem típica:

  • Efluentes de HCl 15%: ~1,2 kg NaOH/L de efluente
  • Efluentes de H₂SO₄ 10%: ~0,8 kg NaOH/L de efluente

Aplicação ideal:

  • Fundições com sistema automatizado
  • Volumes médios/grandes (>500L/dia de efluente)
  • Quando precisão de pH final é crítica
  • Instalações com recursos para automação

A Boreto & Cardoso® fornece soda cáustica líquida 50% certificada, ideal para sistemas automatizados de neutralização.

Soda Cáustica em Escamas (NaOH 98%)

Características:

  • Concentração: 98% m/m (pureza comercial)
  • Forma física: Escamas ou micropérolas brancas
  • Solubilidade: 1090 g/L em água a 20°C (reação exotérmica)
  • Reatividade: Alta após dissolução

Vantagens:

  • Custo 20-30% menor que soda líquida por equivalente
  • Armazenamento mais simples (menor volume, sem aquecimento)
  • Transporte mais econômico
  • Embalagens menores (sacos 25kg, big bags 500kg)
  • Não cristaliza em baixas temperaturas

Limitações:

  • Exige dissolução prévia em água
  • Dissolução gera calor intenso (cuidado com respingos)
  • Aplicação manual em bateladas
  • Controle de pH menos preciso
  • Absorve umidade do ar (armazenamento em local seco)

Preparo de solução: Para preparar 100L de NaOH 30% a partir de escamas:

  1. Adicione 50L de água em tanque plástico
  2. SEMPRE adicione NaOH na água, nunca água no NaOH
  3. Adicione lentamente 40kg de escamas com agitação
  4. Complete para 100L após dissolução total
  5. Aguarde resfriamento antes de usar

Aplicação ideal:

  • Fundições de pequeno porte
  • Processos em batelada (não contínuos)
  • Orçamento limitado para investimento inicial
  • Consumo mensal baixo (<200L de efluente/dia)

Cal Hidratada (Ca(OH)₂)

Características:

  • Fórmula: Ca(OH)₂ (hidróxido de cálcio)
  • Concentração: 90-95% de pureza comercial
  • Solubilidade: Baixa (1,65 g/L a 20°C)
  • Reatividade: Média (requer agitação vigorosa)

Vantagens:

  • Custo 60-70% menor que soda cáustica por equivalente
  • Produto menos perigoso (manipulação mais segura)
  • Disponibilidade ampla no mercado
  • Embalagens convenientes (sacos 20kg)
  • Gera lodo com melhor sedimentabilidade

Limitações:

  • Baixa solubilidade exige suspensão (leite de cal)
  • Requer tanque adicional para preparo
  • Agitação vigorosa obrigatória durante aplicação
  • Gera 2-3x mais volume de lodo que NaOH
  • Controle de pH menos preciso
  • Pode formar incrustações em tubulações

Preparo de leite de cal: Para preparar 100L de suspensão 10%:

  1. Adicione 70L de água em tanque com agitador
  2. Adicione 10kg de cal hidratada com agitação contínua
  3. Complete para 100L
  4. Mantenha agitação durante uso (sedimenta rapidamente)
  5. Use em até 24 horas após preparo

Dosagem típica:

  • Efluentes de HCl 15%: ~0,9 kg Ca(OH)₂/L de efluente
  • Efluentes de H₂SO₄ 10%: ~0,6 kg Ca(OH)₂/L de efluente

Aplicação ideal:

  • Fundições com grandes volumes de efluente
  • Quando custo de insumo é fator crítico
  • Processos em batelada com tanques grandes
  • Instalações com espaço para tanque de preparo de leite de cal

Barrilha (Na₂CO₃)

Características:

  • Fórmula: Na₂CO₃ (carbonato de sódio)
  • Concentração: 99% pureza comercial (leve ou densa)
  • Solubilidade: 215 g/L a 20°C
  • Reatividade: Moderada (neutralização gradual)

Vantagens:

  • Neutralização mais suave (menos risco de sobrecorreção)
  • Produto menos perigoso (manipulação segura)
  • Não eleva pH drasticamente
  • Custo intermediário entre NaOH e Ca(OH)₂
  • Armazenamento simples

Limitações:

  • Gera CO₂ durante reação (exige ventilação adequada)
  • Menor capacidade de neutralização por kg
  • Não adequada como único agente para pH muito baixo
  • Requer maior tempo de reação

Reação com ácidos: 2HCl + Na₂CO₃ → 2NaCl + H₂O + CO₂ ↑ H₂SO₄ + Na₂CO₃ → Na₂SO₄ + H₂O + CO₂ ↑

Aplicação ideal:

  • Pré-neutralização (elevar pH de 1 para 3-4)
  • Ajuste fino de pH antes do descarte
  • Quando se busca controle gradual de pH
  • Complemento à neutralização com NaOH ou Ca(OH)₂

Comparação Resumida

Sistema Completo de Neutralização

Componentes Essenciais

1. Tanque de Equalização (Volume: 2-3x volume diário de efluente)

Função: Homogeneizar efluentes de diferentes bateladas, evitando variações bruscas de pH e concentração que dificultam o controle do processo.

Especificações:

  • Material: PEAD ou PP (resistente a ácidos)
  • Agitação: Mecânica lenta (20-30 rpm)
  • Instrumentação: pHmetro de processo, termômetro
  • Bomba de transferência: Polipropileno ou PVDF

2. Tanque de Neutralização (Volume: 1-2x volume diário de efluente)

Função: Reação controlada entre efluente ácido e agente alcalino, precipitação de hidróxidos metálicos.

Especificações:

  • Material: PEAD, PP ou fibra de vidro
  • Agitação: Mecânica vigorosa (60-80 rpm, hélice tipo turbina)
  • Sistema de dosagem: Bomba dosadora de membrana ou peristáltica
  • Instrumentação: pHmetro online com registro contínuo, transmissor de pH
  • Controle: Dosagem de alcalino proporcional ao pH (PID controller)

3. Sistema de Monitoramento

Função: Controle em tempo real do pH, garantindo manutenção da faixa 6-9 conforme CONAMA 430.

Especificações:

  • pHmetro industrial: Eletrodo combinado resistente a meios agressivos
  • Faixa de medição: pH 0-14 com precisão ±0,1
  • Calibração: Soluções tampão pH 4, 7, 10 (semanal)
  • Registro: Datalogger ou CLP com armazenamento contínuo
  • Alarmes: pH < 6 ou pH > 9 (interrompe descarte)

4. Tanque de Sedimentação (Volume: 3-4x volume diário de efluente)

Função: Separação gravitacional do lodo de hidróxidos metálicos da água tratada.

Especificações:

  • Material: Concreto revestido ou PEAD
  • Geometria: Formato cônico (facilita descarte de lodo)
  • Tempo de retenção: 4-8 horas
  • Sistema de descarte de lodo: Válvula de fundo com automação
  • Sobrenadante: Canaleta periférica para coleta de água clarificada

5. Sistema de Desaguamento

Função: Reduzir teor de umidade do lodo de 95-98% para 60-75%, facilitando transporte e destinação.

Opções:

  • Filtro-prensa (manual ou automático): Placas filtrantes com pressão 6-10 bar, gera tortas com 60-70% umidade. Ideal para volumes médios/grandes.
  • Centrífuga decanter: Separação contínua por força centrífuga, gera lodo com 65-75% umidade. Ideal para grandes volumes contínuos.
  • Bags filtrantes: Solução econômica para pequenos volumes, desaguamento gravitacional lento (24-48h).

6. Tanque de Água Tratada

Função: Armazenamento temporário de efluente neutralizado antes de descarte ou reuso.

Especificações:

  • Material: PEAD ou concreto
  • Volume: 1-2 dias de produção
  • Instrumentação: pHmetro de verificação final
  • Análise laboratorial: Antes do primeiro descarte e periodicamente

Fluxograma do Processo

[Efluente Ácido] → [Tanque Equalização] → [Tanque Neutralização + Dosagem Alcalino]

[pHmetro Online]

[Tanque Sedimentação]
↓ ↓
[Lodo Fundo] [Água Clarificada]
↓ ↓
[Desaguamento] [Tanque Água Tratada]
↓ ↓
[Lodo Desaguado] [Descarte/Reuso]

[Destinação Final]

Dimensionamento Exemplo

Fundição com 1000L/dia de efluente ácido (HCl 15%, pH 1,0):

Tanque de equalização: 3.000L (3 dias de autonomia) Tanque de neutralização: 1.500L (1,5 dias) Consumo de NaOH 50%: ~40-50 kg/dia Tanque de sedimentação: 4.000L (4 dias de retenção) Geração de lodo úmido: ~150-200 kg/dia (95% umidade) Geração de lodo seco: ~8-12 kg/dia após desaguamento

Investimento estimado:

  • Tanques (equalização, neutralização, sedimentação): R$ 15.000-25.000
  • Bombas e agitadores: R$ 8.000-12.000
  • pHmetro online + controle: R$ 12.000-18.000
  • Sistema de dosagem: R$ 5.000-8.000
  • Filtro-prensa pequeno porte: R$ 25.000-40.000
  • Instalação e comissionamento: R$ 10.000-15.000 Total: R$ 75.000-118.000

Protocolo Operacional: Passo a Passo

Etapa 1: Equalização do Efluente

  1. Transferir efluente ácido do tanque de decapagem para tanque de equalização
  2. Ligar agitação mecânica (20-30 rpm)
  3. Medir pH inicial com pHmetro calibrado (registrar valor)
  4. Coletar amostra para análise laboratorial (acidez livre, metais dissolvidos)
  5. Aguardar homogeneização completa (mínimo 30 minutos de agitação)

Etapa 2: Cálculo da Dosagem de Alcalino

Para NaOH líquido 50%:

Fórmula simplificada (efluentes de HCl): Massa NaOH (kg) = Volume efluente (L) × Concentração HCl (%) × 1,2

Exemplo: 1000L de HCl 15% Massa NaOH = 1000 × 0,15 × 1,2 = 180 kg de NaOH puro Volume NaOH 50% = 180 / 0,5 = 360 kg = ~237 L de NaOH líquido

Nota: Fórmula simplificada. Para precisão, realizar teste em bancada com 100 mL de efluente.

Etapa 3: Neutralização Controlada

  1. Transferir efluente do tanque de equalização para tanque de neutralização
  2. Ligar agitação vigorosa (60-80 rpm)
  3. Iniciar dosagem de alcalino lentamente (50% da dose calculada)
  4. Monitorar pH continuamente com eletrodo online
  5. Observar formação de precipitado marrom (hidróxidos de ferro)
  6. Quando pH atingir 3-4: Reduzir velocidade de dosagem (controle fino)
  7. Adicionar alcalino até pH 8,0-8,5 (zona de precipitação completa)
  8. Aguardar 15-20 minutos com agitação para reação completa
  9. Verificar pH final: Deve estar estável em 8,0-8,5

Atenção: Reação de neutralização é exotérmica. Temperatura do banho pode elevar 20-30°C. Dosagem muito rápida causa espuma excessiva.

Etapa 4: Sedimentação

  1. Transferir efluente neutralizado para tanque de sedimentação
  2. Desligar agitação (permitir sedimentação gravitacional)
  3. Aguardar 4-8 horas para separação completa de fases
  4. Observar formação de 3 camadas:
    • Superior: Água clarificada (pH 6-9)
    • Intermediária: Interface (zona de transição)
    • Inferior: Lodo de hidróxidos denso (marrom escuro)

Etapa 5: Separação e Desaguamento

  1. Coletar água clarificada pela canaleta superior
  2. Transferir para tanque de água tratada
  3. Medir pH final (deve estar em 6-9 para descarte)
  4. Coletar lodo pela válvula de fundo
  5. Bombear lodo para sistema de desaguamento (filtro-prensa)
  6. Operar filtro-prensa conforme manual (6-10 bar, 30-60 min)
  7. Retirar torta de lodo com 60-70% umidade
  8. Armazenar em tambores identificados para destinação

Etapa 6: Descarte ou Reuso

Água tratada (pH 6-9):

  • Opção 1: Descarte em rede coletora ou corpo receptor (conforme outorga)
  • Opção 2: Reuso em processos que toleram sais dissolvidos (lavagem de pátio, resfriamento indireto)
  • Opção 3: Reuso em novos banhos de decapagem após tratamento avançado (viabilidade econômica a avaliar)

Lodo desaguado:

  • Armazenamento: Tambores 200L identificados com rótulo de resíduo perigoso
  • Caracterização: Análise ABNT NBR 10004 (classificação como Classe I)
  • Destinação: Aterro industrial Classe I através de empresa certificada
  • Documentação: MTR (Manifesto de Transporte de Resíduos), CADRI (Certificado de Movimentação de Resíduos de Interesse Ambiental), Certificado de Destinação Final

Controle de Qualidade e Documentação

Análises Obrigatórias

Análise do efluente neutralizado (antes do primeiro descarte):

  • pH
  • Ferro total
  • Metais de interesse (Zn, Ni, Cr, Cu conforme processo)
  • Sólidos sedimentáveis (teste cone Imhoff)
  • Temperatura

Frequência recomendada após estabilização do processo:

  • pH: Medição contínua online + verificação diária com padrão
  • Análise completa: Mensal por laboratório certificado
  • Sólidos sedimentáveis: Semanal (teste interno)

Documentação Legal Obrigatória

1. Licença Ambiental de Operação (LAO ou LO)

  • Emitida pelo órgão estadual (CETESB, FEAM, IAP, etc)
  • Validade: 3-6 anos conforme estado
  • Renovação: 120 dias antes do vencimento

2. Outorga para Lançamento de Efluentes

  • Autorização para descarte em corpo receptor específico
  • Volume e características do efluente definidos
  • Pontos de lançamento georreferenciados

3. Manifesto de Transporte de Resíduos (MTR)

  • Documento para cada transporte de lodo
  • Gerador, transportador e destinador identificados
  • Assinatura de todas as partes
  • Guarda: 5 anos

4. CADRI (Certificado de Movimentação de Resíduos de Interesse Ambiental)

  • Específico para resíduos Classe I (perigosos)
  • Emitido pelo órgão ambiental estadual
  • Renovação anual

5. Certificado de Destinação Final

  • Emitido pela empresa receptora do lodo (aterro Classe I)
  • Comprova destinação ambientalmente adequada
  • Guarda: Permanente (5+ anos)

6. Relatórios de Monitoramento

  • Resultados de análises laboratoriais
  • Registro contínuo de pH
  • Volumes de efluente tratado e lodo gerado
  • Envio ao órgão ambiental conforme periodicidade da licença

Registros Operacionais Diários

Planilha de controle de neutralização (exemplo):

Destinação do Lodo de Hidróxidos

Caracterização do Lodo

O lodo gerado na neutralização de efluentes de decapagem contém principalmente hidróxidos de ferro [Fe(OH)₃, Fe(OH)₂] e outros metais conforme o processo. A caracterização conforme ABNT NBR 10004 é obrigatória para definir a destinação correta.

Classificação típica:

  • Classe I (Resíduo Perigoso): Quando contém metais pesados acima dos limites (Cr, Ni, Pb, Cd)
  • Classe II-A (Não inerte): Lodo com predominância de ferro e baixos teores de metais tóxicos

Para decapagem de aços carbono com HCl ou H₂SO₄, o lodo geralmente é classificado como Classe II-A, mas a análise laboratorial é obrigatória.

Opções de Destinação

1. Aterro Industrial Classe I

  • Destinação mais comum para lodos Classe I
  • Custo: R$ 300-800/tonelada dependendo da região e transportadora
  • Documentação: MTR, CADRI, Certificado de Destinação

2. Recuperação de Metais (Siderúrgicas)

  • Viável quando teor de ferro é elevado (>40% base seca)
  • Siderúrgicas podem comprar o lodo como fonte secundária de ferro
  • Valor: R$ 50-200/tonelada dependendo do teor e volume
  • Exige análise prévia de composição

3. Reprocessamento Interno (Fundições com Forno Elétrico)

  • Fundições que operam fornos elétricos podem reprocessar o lodo
  • Ferro dos hidróxidos retorna ao processo produtivo
  • Economia: Elimina custo de destinação + reduz compra de sucata
  • Exige análise de viabilidade técnica (impurezas, capacidade do forno)

4. Co-processamento (Cimenteiras)

  • Lodo pode ser utilizado como matéria-prima alternativa em cimento
  • Exige caracterização específica (teor de metais, poder calorífico)
  • Custo: R$ 200-500/tonelada
  • Disponibilidade regional limitada

Economia na Gestão de Lodo

Redução de volume:

  • Desaguamento eficiente reduz volume em 70-80%
  • Filtro-prensa: De 1000 kg lodo úmido (95% umidade) → 300 kg lodo seco (70% umidade)
  • Economia em transporte e destinação proporcional à redução de peso

Estudo de viabilidade para recuperação: Para fundições que geram >500 kg/mês de lodo seco, estudo de viabilidade para recuperação de ferro pode ser economicamente atrativo.

Produtos Boreto & Cardoso® para Neutralização

A Boreto & Cardoso®, distribuidora especializada com mais de 50 anos no mercado brasileiro, fornece linha completa de alcalinos certificados para neutralização de efluentes industriais conforme CONAMA 430/2011.

Soda Cáustica Líquida 50% (NaOH)

Especificações técnicas:

  • Concentração: 50% m/m ± 1%
  • Densidade: 1,52 g/cm³ ± 0,02 a 25°C
  • Pureza: Grau industrial certificado
  • Impurezas: Controle rigoroso de Na₂CO₃ (<2%)
  • Certificação: Fornecedores certificados ISO 9001

Embalagens disponíveis:

  • IBC 1000L (ideal para consumo contínuo)
  • Tambor 200L (flexibilidade operacional)
  • A granel (mediante projeto para grandes volumes)

Diferenciais Boreto & Cardoso®:

  • Rastreabilidade completa de lote
  • Certificado de análise por lote
  • FDS (Ficha de Dados de Segurança) atualizada conforme GHS
  • Estoque permanente em São Paulo (pronta entrega)

Soda Cáustica em Escamas 98%

Especificações técnicas:

  • Concentração: 98% m/m (pureza comercial)
  • Forma: Escamas ou micropérolas
  • Umidade: <1%
  • Certificação: Análise de lote completa

Embalagens disponíveis:

  • Sacos 25kg (PEAD ou polipropileno)
  • Big bags 500kg ou 1000kg (para grandes volumes)

Aplicação: Ideal para fundições de pequeno porte com processos em batelada, onde a economia de custo é prioritária e a automação não é crítica.

Barrilha Leve e Densa (Na₂CO₃)

Especificações técnicas:

  • Concentração: 99,2% de pureza mínima
  • Formas: Leve (densidade aparente 0,5 g/cm³) ou Densa (1,0 g/cm³)
  • Certificação: Grau industrial certificado

Embalagens disponíveis:

  • Sacos 25kg
  • Big bags 500kg

Aplicação: Utilizada principalmente em pré-neutralização de efluentes muito ácidos (pH < 1) ou ajuste fino de pH antes do descarte.

Perguntas Frequentes

1. Quanto tempo leva o processo completo de neutralização?

O tempo total depende do volume e nível de automação:

  • Equalização: 30-60 minutos
  • Neutralização: 30-45 minutos (dosagem controlada)
  • Sedimentação: 4-8 horas
  • Desaguamento: 30-60 minutos (filtro-prensa)

Para processo em batelada manual: 6-10 horas totais do efluente ácido até água tratada + lodo desaguado.

Para sistema automatizado contínuo: Tempo de residência total de 8-12 horas com operação 24/7.

2. Posso descartar água tratada (pH 6-9) diretamente no esgoto?

Depende da legislação municipal e da autorização da concessionária de saneamento. Muitos municípios exigem:

  • Autorização prévia da concessionária
  • Análise prévia completa de metais
  • Outorga específica para lançamento na rede
  • Pagamento de taxa de lançamento

Verifique com SABESP, SANEPAR ou concessionária local antes do primeiro descarte. Em alguns casos, descarte em corpo receptor (rio, córrego) mediante outorga é mais viável que esgoto.

3. O lodo de neutralização pode ser destinado como resíduo comum (Classe II)?

Não sem análise laboratorial. A classificação como Classe I ou II-A depende dos resultados de análise de lixiviação e solubilização conforme ABNT NBR 10004. Destinação incorreta pode gerar multas graves e responsabilização criminal.

Realize sempre a caracterização laboratorial antes da primeira destinação e repita anualmente ou quando houver mudança no processo de decapagem.

4. É possível recuperar ácido do efluente ao invés de neutralizar?

Sim, através de processos de regeneração ácida:

  • Pirólise (Retorta): Aquecimento do efluente para vaporizar ácido, separando-o dos metais
  • Destilação: Separação por diferença de ponto de ebulição
  • Membranas (Diálise, Osmose Reversa): Separação por membranas seletivas

Esses processos são economicamente viáveis apenas para grandes volumes (>10.000 L/mês) e exigem investimento elevado (R$ 200.000 a R$ 2.000.000). Para pequenas fundições, neutralização é mais viável.

5. Como sei se meu sistema de neutralização está funcionando corretamente?

Indicadores de operação adequada:

  • pH final estável em 8,0-8,5 após neutralização
  • Água tratada visualmente clara (não turva)
  • Sedimentação completa em 4-8 horas
  • Lodo denso e facilmente desaguável
  • Consumo de alcalino conforme cálculo teórico (±20%)
  • Análises laboratoriais dentro dos limites CONAMA 430

Realize análise laboratorial completa no mínimo mensalmente para validar eficiência do processo.

6. Preciso de licença ambiental para operar sistema de neutralização?

Sim, obrigatoriamente. A Licença Ambiental de Operação (LAO ou LO) é exigida por lei para qualquer atividade industrial que gere efluentes. A licença deve mencionar especificamente o sistema de tratamento de efluentes (ETE) e as características do efluente tratado a ser descartado.

Operar sem licença ambiental configura crime ambiental com pena de reclusão de 1 a 4 anos conforme Lei 9.605/98, além de multa e interdição das atividades.

Conclusão

A neutralização de efluentes de decapagem conforme CONAMA 430/2011 é obrigação legal inegociável para fundições e metalúrgicas brasileiras. O investimento em sistema adequado de tratamento — que varia de R$ 25.000 para pequeno porte até R$ 150.000 para sistemas automatizados — se paga rapidamente quando comparado aos riscos de multas (R$ 5.000 a R$ 50 milhões), interdição de atividades e responsabilização criminal de gestores.

Além da conformidade legal, sistemas bem dimensionados de neutralização permitem redução de custos através de:

  • Reuso de água tratada em processos não críticos (economia de 30-50% em captação)
  • Recuperação de metais de alto valor quando volumes justificam (receita de R$ 50-200/ton)
  • Eliminação total de riscos ambientais e trabalhistas
  • Melhoria da imagem corporativa e acesso a certificações ambientais

A experiência de mais de 50 anos da Boreto & Cardoso® no fornecimento de insumos químicos para metalurgia demonstra que fundições que implementam protocolos rigorosos de neutralização operam com total tranquilidade legal, custos operacionais otimizados e conformidade ambiental exemplar. Nossa certificação ISO 9001:2015 e rede de fornecedores certificados garantem que cada insumo alcalino atende às especificações técnicas para processos críticos de neutralização.

Próximos Passos

  1. Avalie seu processo atual: Verifique se há sistema de neutralização instalado e documentação legal em dia
  2. Dimensione sistema adequado: Calcule volume diário de efluente e capacidade necessária dos tanques
  3. Escolha agente alcalino: NaOH líquido para automação, escamas para batelada, cal para grandes volumes
  4. Regularize documentação: LAO, outorga, MTR, CADRI conforme exigências estaduais
  5. Implemente controles: pHmetro online, análises laboratoriais, registros operacionais

Entre em Contato

Telefones: +55 11 3931-1722 / +55 11 2366-6260

Endereço Matriz: Rua Alagoas, 30 | Recanto Silvestre | Santana de Parnaíba - SP | CEP 06530-245

Filial Limeira: Atendimento especializado ao polo metalúrgico paulista

E-mail: boreto@boreto.com.br

Site: www.boreto.com.br

Certificação: ISO 9001:2015 - Gestão de Qualidade


Nota ao leitor
Este artigo reúne informações técnicas extraídas de diferentes fontes, com o objetivo de ampliar o conhecimento sobre as matérias-primas mencionadas.
Trata-se de um material apenas informativo, não representando por parte da Boreto & Cardoso qualquer indicação de aplicação, formulação ou recomendação direta de uso.
A Boreto & Cardoso® com 53 anos de experiência atua restritamente no fornecimento de insumos químicos para as mais variadas aplicações ,ficando a cargo de cada usuário verificar a adequação e conformidade de sua aplicação.